Solar Cookers International Network (Home)

 

Fumaça de madeira pode ser mais perigosa do que se pensava

Um fogão a lenha de alta eficiência pode realmente criar mais efeito-estufa do que o fogo tradicional.

Na Conferência Mundial de Cozimento Solar, em 1992, Dr. Daniel M. Kammen, do Departamento de Física da Universidade de Harvard, fez uma apresentação sobre a emissão a partir do cozimento tradicional e os efeitos que eles podem trazer para a atmosfera e o aquecimento global. Nós conversarmos com Dr. Kammen na conferência.

SBJ: Dr. Kammen, o que você descobriu sobre a fumaça do fogão tradicional?

Daniel Kammen: Enquanto todos sabem que o dióxido de carbono produzido da queima de madeira contribui para o efeito estufa, o que nós descobrimos é que outros gases - monóxido de carbono, metano, dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio, etc. - são produzidos em quantidades muito maiores do que se pensava anteriormente.

SBJ: O que isso significa?

DK: Quando você calcula a contribuição que esses gases têm no aquecimento global, eles empatam ou excedem o efeito-estufa produzido por dióxido de carbono sozinho.

Um quilograma de madeira é aproximadamente feito de 50% de carbono. Quando é queimado em condições ideais, a fumaça consiste em sua maior parte de água e dióxido de carbono. Mas, nas práticas tradicionais de cozimento, onde não há oxigênio suficiente, aquelas 500 gramas de carbono produzem de 50 a 60 gramas de monóxido de carbono, 20 a 30 gramas de metano, 30 a 40 gramas de outro resíduo. Cada um desses produtos diferentes do CO2 de combustível tem uma contribuição maior no efeito estufa, molécula a molécula, do que o dióxido de carbono. O efeito-estufa provocado pelo monóxido de carbono é cerca de cinco vezes maior, do metano é certa de 23 vezes maior e o dióxido de nitrogênio é um gás 280 vezes mais nocivo para o efeito-estufa.

Quando você multiplica a quantidade de emissão pelo potencial de aquecimento de cada gás e soma, você descobre que os gases diferentes do CO2 equivalem a 460 gramas. A quantidade de CO2 diretamente liberada pela queima de um quilograma de madeira é cerca de 440 gramas, uma vez que o oxigênio do ar é adicionado.

SBJ: Então, em essência nós temos o dobro de efeito-estufa?

DK: Isso mesmo. Agora o item chave é, quanto tempo esses gases permanecem na atmosfera? A vida média de cada gás é desconhecida precisamente, mas metade do CO2 liberado hoje ainda estará na atmosfera daqui a 150 ou 200 anos. Daqui a 300 ou 400 anos, apenas um quarto dele estará ainda lá. O metano tem vida média de cerca de 7 anos.

SBJ: Parece que felizmente os gases mais poderosos para causar o efeito-estufa tem vida-média menor.

DK: Sim, mas lembre-se que esses gases não desaparecem de repente. Quando uma molécula de metano deixa de ser metano, ele se torna CO2. Isso ainda é uma coisa ruim. Agora, se você multiplicar a quantidade de cada gás que está na atmosfera pelo quão reativo ele é, então subtrair o que diminuiu devido a sua vida média, você encontra que depois dos primeiros 20 anos os gases que não são CO2 têm tido um grande efeito.

SBJ: E isso é de conhecimento geral?

DK: A química atmosférica é bastante conhecida atualmente. A grande surpresa é que a queima em pequena escala produz mais gases diferentes de CO2 do que se pensava inicialmente. Os cientistas não têm pesquisado de perto o ineficiente fogo para cozimento.

SBJ: E você tem a medida real da produção desses gases?

DK: Isto é certo. E eu acredito que nesse verão poderia pesquisar de perto, enquanto no Quênia, o efeito que a disponibilidade de oxigênio tem na produção de gases diferentes do CO2. Isso pode ser significante. Os fogões de cerâmica de alta eficiência que têm sido disseminados, reduzem o consumo de madeira devido à redução do consumo de oxigênio. Nós
podemos estar produzindo mais gases que provocam o efeito-estufa com menos madeira. Nós iremos também pesquisar o cozimento de tijolos usando um largo fogão solar, eliminando outra queima que produz muitos gases diferentes de CO2.

SBJ: Então, você poderia resumir as implicações para o cozimento solar?

DK: A contribuição do cozimento com fogo para o efeito-estufa global tem sido sub-estimada. A contribuição potencial do cozimento solar pode ser maior do que pensamos. A coisa assustadora é esta: se no ano 2000 nós nos conscientizarmos e fizermos a coisa certa, nós ainda teremos muito tempo para sofrer a conseqüência do que fizemos. Por isso, é tão importante que nós comecemos a seguir na direção certa!

 
This document is published on The Solar Cooking Archive at http://solarcooking.org/portugues/ghouse-pt.htm. For questions or comments, contact webmaster@solarcooking.org